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16/07/09

Milagre de Amor

No livro colectânea Alameda dos Poetas de 1993
página 73

Milagre de Amor
Singela homenagem a todas as mulheres que enfrentam a vida com aquela coragem e determinação que só o Amor pode transmitir!
Beijinho para ti, tia!!



Mulher,
quem te dá teu valor?
Quem olha para ti e diz :
"_ Muito obrigado pela tua valentia!" ?...

...

Mulher,
tu que sofreste as maiores agruras da vida
palmilhando montes e vales
sob sol ou chuva fria
correndo atrás de um sonho
só com esperança para te alimentar...
diz-me:
quem te deu forças para continuar?

Viste o teu homem partir
envolto no véu negro da morte
e tu tão frágil, foste tão forte!...

Com teus filhos nos braços
sozinha te viste nas encruzilhadas da vida.
Mulher moça, mas tão sofrida!

Sofreste a tortura da solidão
e nas encruzilhadas dos caminhos
não encontraste compreensão
mas asquerosas propostas
de quem se queria aproveitar de ti...
Mas tu foste forte
e soubeste dizer -Não!

Pegaste teus filhos, aqueles pedacinhos de ti
e partiste para a luta.
Lutaste contra tudo e contra todos
numa força até para ti desconhecida;
e do nada que então foste
hoje és Alguém na vida!

Mas quem vê onde hoje estás
triunfante da tua glória,
não sabe olhar para trás,
ver o caminho que percorreste,
tudo aquilo que tu sofreste
para conseguires a vitória.

E se houve algum milagre
que te trouxe esse esplendor
Para mim foi certamente
Um Milagre do Teu Amor

Filó(1988)

01/07/09

Homem do mar

Hoje deu-me para andar a mexer recordações!

Entre algumas outras fui encontrar um Boletim Informativo de Porto Côvo que data de Dezembro 1995.
Lá, na página 15 um pequeno resumo biográfico da minha pessoa e este poema que dediquei ao meu sogro e que hoje aqui vos deixo:





Homem do mar


Trabalha desde criança
Na dura vida do mar
Tem no destino confiança
Que sempre o faça voltar


Nasceu sem ser desejado
Cresceu sem grande percalço
Andou seminu e descalço
Muita vezes esfomeado
Foi pelo vento fustigado
Viu tempestade e bonança
Na vida teve esperança
Confiando em sua sorte
No mar desafiando a morte
Trabalha desde criança

As estrelas são o seu guia
Conhece todos os ventos
Já passou mil tormentos
Já conheceu a agonia
O sol e a maresia
Vieram seu corpo queimar
Idade o faz vergar
Rugas sulcaram seu rosto
Mas não abandona seu posto
Na vida dura do mar

Teve pouca instrução
E mal aprendeu a ler
mas é honrado seu viver
Tem Amor o seu coração
Fez da vida uma missão
Quis ser ele a mudança
Deixar a seus filhos a herança
Que ele não pode receber
Por uma melhor vida e saber
Tem no destino confiança

Eu dou-lhe grande valor
Admiro a sua coragem
Faço dele uma imagem
A ele dou o meu louvor
Sempre grande lutador
Seja na terra ou no mar
Quando o vejo embarcar
Na praia rogo com fé
Que o leve boa maré
Que sempre o faça voltar


Filó (1988)


Curiosamente diz ali na pequena biografia que este poema está no livro "Poeta é o Povo" , nº2, colectânea de Poetas Populares do Alentejo e Algarve!
Na verdade não tenho recordação disso, nem nenhum exemplar desse livro! Alguém se esqueceu de me avisar!!!! ?


27/06/09

Sem nome



Sem nome e sem rosto saí para a rua.
No bolso, a mão cerrada agarrava ainda a réstia de esperança que sobejara. Subi a rua ao acaso e procurei-te na multidão.
O som das vozes fundia-se no ruído dos autocarros, e o conjunto era na minha cabeça um burburinho de sons sem sentido, irritante e ameaçador.
Olhei os rostos. Aqueles rostos sem cor e sem nome tal como o meu, que me olhavam indiferentes, sem uma expressão, sem um sorriso...
Eram apenas rostos gelados olhando para mim!...
Apertei mais fortemente o meu bocadinho de esperança e segui em frente. Subi a avenida passo a passo procurando-te em cada rosto e em cada voz.
Não sabia! Eu não sabia onde estavas, e apenas aquela centelha de esperança me guiava na multidão. E foi ela que me conduziu...
De súbito, parei. Uma voz sobressaia do burburinho das outras vozes, tocava-me cá dentro e dizia: "-Sou Eu! Estou aqui!..."
Olhei, mas nada vi. Somente rostos sem nome e vozes difusas.
Mas a tua era uma voz clara e cristalina: "-Sou Eu! estou aqui!!..."
Não vi o teu rosto, mas soube que eras Tu. A tua voz penetrava em meu ser e trazia inflexões de paz, sinceridade e amizade...
Sim, eu soube que eras Tu!
Retirei a mão do meu bolso e estendi-te o meu bocadinho de esperança, cintilante na minha mão aberta....

Filó(1995)

20/06/09

Canta Alentejo




Canta Alentejo!...
Inspirado no ouro ondulante dos trigais
ou nas tardes calmas e quentes em que tu vais
espreguiçar-te junto ao mar, onde te vejo.

Canta Alentejo!...
O sabor da merenda e do suor
a suavidade rude da tua gente
Canta o teu passado e o teu presente
onde hoje e sempre existe Amor!

Da imensidão dos espaços que nunca vi
quero que me tragas experiências que não vivi
mas que da lonjura do tempo, trazes memoria...

Fala-me da Natureza... ódios... amantes...
Fala-me do que queiras desde que me cantes
numa canção dolente a tua História!

Filó (1993)

29/05/09

No palco da vida


Na areia da praia
na espuma do mar
duas meninas
iam brincar

Correndo nas areias
ao sol de verão
comendo a meias
um naco de pão

Dançando na chuva
gargalhadas no ar
naquela alegria
de quem sabe inventar

Segredos partilhados
fantasias sem fim
As duas meninas
sabiam sonhar
e sonhavam assim:

"Palco" aberto
aplausos no ar...
E quando uma voz se elevava
imitando o artista,
logo um corpo
ligeiro avançava
e deslizando na "pista"
como que voava
...e sabia voar!!!

Cumplicidade marota
que tudo sabia
Bastava um olhar
e num toque de magia
logo uma captava
o que a outra dizia!!

... ... ...

Hoje
há saudade no olhar
uma lágrima rolando
Não há mais fantasias a partilhar
nem palco
nem aplausos no ar
... e nem na chuva dois corpos dançando!

Filó (1988)

10/05/09

Soldado da Paz

De 1991, pelo aniversário dos B.V.S.
numa iniciativa B.V.S e R. Sines



Não é só farda e capacete
rosto sem nome acudindo à chamada.
Não é autómato enigmático
corpo metálico, vida gelada!...

É alma, é gente, é vida humana!
É carne, é sangue, é coração!
Pessoa simples, amiga , dedicada
com coragem, alma, vida e coração.
Capaz de dar a sua vida, por outra vida...
Capaz de se dar à Terra, pela sua terra...
e de ao próprio desconhecido dar a mão.

Eu sei!... Tu sabes!... Ele sabe!...
Mas... e os outros? Será que outros sabem?
Será que sentem, que são gente?
Ou são essas as vidas geladas
as almas perdidas
que só vêm a ganância e a podridão
na triste ilusão das suas vidas!?

Esses, os egoístas...
que não sabem ver a verdadeira beleza...
os que só pensam em destruir...
não respeitam a Terra
não respeitam o Mar
nem a própria Natureza!

Esses só querem mais e mais possuir!...

Mas bombeiro, tu és um amigo
meu bom companheiro desta curta estrada
Só tu, bombeiro enfrentas o perigo
e és porto de abrigo
nos vendavais da jornada!

Tu és o amigo, o verdadeiro irmão
amas os Homens e a Natureza
Para ti não há distinção
não há raça, cor ou religião
No teu carácter há coragem e nobreza

Homenagem te presto do modo que sei
E aqui te deixo este breve recado:
- Soldado, da Paz és o Rei
Bombeiro amigo, muito obrigado!

Filó (1991)

20/04/09

25 de Abril


Quando se aproxima mais uma comemoração do Dia da Liberdade...
...Em 1993, numa iniciativa "Poesia é cultura" da JF Sines, CCEE e R Sines...

i! (... o reavivar de memórias onde este blog me leva!!... )!i

No calar da revolta
o silêncio do medo
a opressão!
Ignorância forçada...
escondendo um segredo
na escuridão!

Direitos do Homem
que se ocultavam
do povo carente...
Dominando em miséria
a crescente revolta
da nossa gente...

Palavras/prisões...
tortura escondida
no obscurantismo.
Revolta crescente
que se agigantava
contra o fascismo.

Mas soltas na noite
as palavras caladas
desse povo sem voz
surge-nos Abril
com cravos florindo
dentro de nós!...

E já se cantam nas ruas
as palavras/prisões
de antigos dias...
Esquece-se o medo:
-Viva a Liberdade!
-Viva a democracia!

Abril foi promessa
foi porta aberta
foi vontade de um povo
Abril foi experiência
foi o fim de uma meta
para nascermos de novo!...

Filó(1993)


18/04/09

Tu és poesia




Dizem os meus apontamentos, que foi o primeiro trabalho com que concorri a um passatempo na Rádio Sines... já lá vão uns aninhos!!


Tu és poesia

És a minha ternura, é meu viver
És tudo aquilo que posso sentir
És as palavras que não sei dizer
És a lágrima que teimo conter
És a força que me faz prosseguir.

És a raiva que sinto, és frustração
És raiva incontida, és nostalgia
És o meu grito de libertação
És o meu escape, a minha emoção
A minha tristeza e a minha alegria

És o rostinho de cada criança
És o sorriso que ilumina o seu rosto
O seu olhar vivo de total confiança
Ou sua lágrima face ao desgosto

És o mistério, és a beleza
És por do sol ao cair do dia
És espaço infinito em sua grandeza
És força vital e és natureza
A minha tristeza e a minha alegria

És a Paz, és o Amor
És realidade e és fantasia
És o bem estar e és a dor
O romper do sol em cada alvor
Tu és a Vida! Tu és Poesia!

Filó (1990)

11/04/09

Amanhã... se eu pudesse!


Amanhã
eu vou sair por aí
Caminhar ao acaso
procurar-me nas ruas...
Vou virar a esquina
enfrentar o meu medo!

Amanhã
vou bater pelas portas
vou gritar o meu nome
caminhar sem destino
procurar as respostas
descobrir o segredo.

***

Amanhã
se eu pudesse
despir-me de preconceitos...
Afastar os meus medos
aceitar os meus defeitos
E correr pelo campo
por entre as flores do monte
E lavar os meus pecados
como lavo o meu rosto
nas águas da fonte.

Se eu pudesse
saber o que quero e não sou
onde estou e não vou...

Descartar-me de vícios
expulsar a tristeza
cultivar a alegria
e viver em harmonia
com a Mãe Natureza!

Amanhã
se eu pudesse
esquecer-me do tempo
e apreciar plenamente
o Sol que me resta
Correr pelos prados
beijar cada flor
trabalhar com agrado
viver com Amor...
E sentir como a Vida
pode ser uma festa!

Ai, amanhã
se eu pudesse

derrubar as barreiras
ultrapassar os meus limites
e encontrar-me comigo!!

Se eu soubesse
formular as perguntas
abrir o meu peito
saber o que quero
saber o que Sou!...

Se eu ao menos soubesse
pensar "amanhã..."

Talvez eu pudesse encontrar as respostas

Talvez eu então
vivesse Amanhã!

Filó (1991)



15/03/09

Simples palavras



Escondi as palavras na minha mão cerrada. Agarrei-me a elas como se foram o alicerce da própria vida e tal como naufrago se agarra a seu salvador, sufoquei-as na inconsciência do meu proceder.

E as palavra ficaram sem voz na minha mão, caladas no medo dos preconceitos.

...Simples palavras que eu não soube dizer!...

Senti-as revoltarem-se inquietas. Senti-as rasgando-me a carne, lutando na escuridão procurando uma fresta por entre os meus dedos... Mas a minha mão cada vez mais fechada, cada vez mais cruel, mais obstinada, continuava seguindo o dever que eu lhe havia imposto.

...Simples palavras fechadas na minha mão!...

E as palavras agigantavam-se, contorciam-se sem voz, penetravam na pele, penetravam no sangue, percorriam o meu corpo numa ânsia infinita por liberdade. Senti-as vibrando na alma, chicoteando o meu corpo, deslizando silenciosas e húmidas sobre o meu rosto...

...Simples palavras que eu não soube dizer!...

Mas as palavras agigantaram-se, multiplicaram-se e cresceram até que a minha mão, pequena e frágil, não tinha mais força nem espaço para as segurar. Assim, o meu corpo e a minha alma inundaram-se de sons, até todo o meu ser se transformar num grito abafado de palavras sem voz...

...Simples palavras fechadas na minha mão!...

Então, tal como tempestade que vem assolando montes e vales, mares e oceanos, um dia, sob um céu de chumbo, as palavras soltaram-se em fúria num ribombar de trovões, em bátega de água sobre o meu rosto, em raios fulminantes e incontroláveis. Ondas gigantes rebentaram contra os rochedos, bateram contra os penhascos, inundaram praias e cercanias...

... As simples palavras que eu não soube dizer!...

Depois, a tempestade passou. O Tempo seguiu o seu curso e secou o meu rosto. O sol regressou e brilhou sobre as praias, as flores renasceram e enfeitaram os campos, e o meu Ser, liberto das palavras, lentamente também renasceu!...

Na minha mão, teimo ainda guardar palavras!!

Sinto-as por vezes revolverem-se inquietas, mas não pretendo reviver tempestades. Assim, quando o sol começa a se esconder sob nuvens mais carregadas, eu abro a minha mão e deixo-as em liberdade. Vejo-as depois já difusas na luz renovada do amanhecer. Então eu sei:

não haverá mais palavras asfixiadas na minha mão!


Filó (1995)