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26/05/09

Confesso


Nada a dizer.
As palavras são ocas!
sombras e vento na minha mão...

Desdenho o condão:
não quero escrever e muito menos sentir.
Somente viver e apenas sorrir...

Recuso as palavras que não sabem parar!

Apenas andar o meu caminho
com o sol e o ar na minha pele...

E esperar que Ele,
o Deus que me guia,
devolva a alegria e absorva de mim,
aqui e agora,
o poema em branco que me devora
e me deixa assim odiando as palavras...

Não quero escrever!
Muito menos sentir
o poema a nascer,
a força a surgir
nas minhas entranhas rasgando o normal
devorando o meu espaço...

e este cansaço das palavras já mortas!!...

Fecho-lhe as portas.
Não quero escrever!

A fúria e a fome, a sede sem nome
sair e ficar...
O clarão de me dar...
e a raiva negando...!

Renego as palavras,
assim flutuando,
como um castigo!

Recuso o abrigo
que me fecha e encerra
e vira do avesso!

É loucura! Confesso!
Mas aqui e agora
grito e declamo:

_ ODEIO AS PALAVRAS
TANTO QUANTO AS AMO!!!!

Filó (2008)

23/05/09

O rasto e o resto


E a palavra morreu!
Colho o grito rasgado nos dedos.

Sombras e medos devoram a noite.
A verdade liberta-se entre o sonho e a madrugada
e já nem importa!

Sou a ronda dos ecos, o silêncio e a metáfora.
O túnel de vento e a casa de espelhos...
O carpir das misérias do abstracto de mim.

Que se danem os retratos a óleo fieis aos contornos!
Que se danem os preceitos e conceitos já pré digeridos!
Que se danem os nós e os laços!

Sou de mim mesma o palhaço, a raiva e o delírio
a paz e o martírio do pioneiro solitário!
o Norte e o Sul
o gelo e o fogo
o átomo e a galáxia
o raio que passa (ou que me parta...) sem saber onde vai...

Sou o calvário de planar no meio-termo.
O inferno em labirintos de algodão!

Cabeça de vento e pés no chão
arranco o sustento no mel e no fel de mim mesma!

O rasto fica nas passagens oblíquas
O mar já lava o cântico das musas.
A arte é o foco da criação.

Na mão, o latejar das palavras.
Na voz, a paz da mordaça que se aprendeu...
E que se dane o silêncio, a palavra e o grito:
No meu infinito sou mais do que isto
sou muito mais do que eu!

Filó (2008)

09/04/09

A nu


Resistes
mãos cheias de nada à margem da lei.

Rosas e cardos são teus
fogo e semente, e até o orvalho.

Insistes
Fincas os dedos na orla do sonho
espreitas o delírio...
Desistes!

Escancaras a janela, a porta e a veia.
Revês a matéria: "...e cada um colhe o que semeia"...
Tão certo!

Mais perto, lá dentro, o mundo que gira às avessas
de dentro p'ra fora... de fora p'ra dentro...

É a fome, o deserto, o medo e a farpa...
A fala da gente que veio,
da gente que está, da gente que foi...
A fera que espreita. Voraz!...

Que nada!
Lá fora é paisagem, espectáculo, cenário.
Livro de ponto escrito ao contrário na orla do delírio à margem lei.

Ah a imagem!... A imagem!...
O Menino de barro, o Deus que nos valha!

Travas a batalha de dentro p'ra fora, de fora p'ra dentro.
Roda que roda, geme que geme.

Floresces na semente que não é a tua
Suga-te a seiva. Rasga-te a pele.
Corres para a rua: _Onde estou eu?!
Lembras-te do espelho: _Olá! Está aí alguém?

Há gente que vai, há gente que vem.
Que passa, desfila, persiste e insiste:
_Tu és Eu! Eu sou Tu!

Olhas-te a nu. Repleto/Vazio.
Não és nada, mas tudo és!
És o prado e o rio que a teus pés
te grita que és pó, que és barro, és pedaço de terra...
Espreitas à beira do delírio.
Que mais te resta?!

Abres a fresta da orla do sonho
Levantas-te e cais... vais e regressas...

De dentro p'ra fora, de fora p'ra dentro...

Insistes.
Persistes.
Resistes.

Recolhes o fruto, mas esqueces a semente!...

Filó (2008)