27/06/09

Sem nome



Sem nome e sem rosto saí para a rua.
No bolso, a mão cerrada agarrava ainda a réstia de esperança que sobejara. Subi a rua ao acaso e procurei-te na multidão.
O som das vozes fundia-se no ruído dos autocarros, e o conjunto era na minha cabeça um burburinho de sons sem sentido, irritante e ameaçador.
Olhei os rostos. Aqueles rostos sem cor e sem nome tal como o meu, que me olhavam indiferentes, sem uma expressão, sem um sorriso...
Eram apenas rostos gelados olhando para mim!...
Apertei mais fortemente o meu bocadinho de esperança e segui em frente. Subi a avenida passo a passo procurando-te em cada rosto e em cada voz.
Não sabia! Eu não sabia onde estavas, e apenas aquela centelha de esperança me guiava na multidão. E foi ela que me conduziu...
De súbito, parei. Uma voz sobressaia do burburinho das outras vozes, tocava-me cá dentro e dizia: "-Sou Eu! Estou aqui!..."
Olhei, mas nada vi. Somente rostos sem nome e vozes difusas.
Mas a tua era uma voz clara e cristalina: "-Sou Eu! estou aqui!!..."
Não vi o teu rosto, mas soube que eras Tu. A tua voz penetrava em meu ser e trazia inflexões de paz, sinceridade e amizade...
Sim, eu soube que eras Tu!
Retirei a mão do meu bolso e estendi-te o meu bocadinho de esperança, cintilante na minha mão aberta....

Filó(1995)

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