23/05/09

Horizonte


Longínqua, na linha do horizonte, a meta acenava envolta em neblina.
Mais do que ver, ela sentia a mão delgada e esbelta, os dedos esguios, sedentos, materializados pela espera, implorando atenção...
Temerosa, naquele pavor absurdo que a caracterizava, recuou um passo de olhos amedrontados fitos na longitude.
A voz, esquecida, gemia na ausência costumeira e determinada.
As mãos cerradas, feridas pela impotência, sufocavam sonhos imprecisos, meio desconhecidos, que teimavam recordar-lhe que a sua existência era real... que estava ali, que estava viva!
Na ondulação, o murmúrio incessante de mil conselhos já antes segredados.
No peito, o vazio sem nome, a carência indeterminada.
...E nos olhos saudosos, duas pérolas com sabor a mar; aquele mar que tão bem conhecia, que fora o seu berço e o seu amigo de longa data!
Olhou de novo a meta lá no horizonte. Ela continuava ali, pulsante, imperativa, inalcançável, fugidia!...
Na tumulto, desistiu da luta e pediu que fosse o Sol o cobertor sobre o corpo trémulo.

Filó (2006)



2 comentários:

Cacilda disse...

Lindo trabalho de fotografia e lindo texto.

Parabéns!

Beijinhos

Cacilda

Filó disse...

Obrigada Cacilda!

Beijinho
Filó