11/03/09

Dunas


Longe do galopar das matilhas o silêncio envolve-se nas dunas.
Percorro a estrada envolta no vaivém incessante.
À direita e ao fundo, azul contra azul em reflexos de prata;

mais perto, o gentio que se apinha num repouso/cansaço de areias e sol.
Avanço.

Tão só quanto só posso ser neste fervilhar de vida.
Sem temor. Apenas cansaço e um resto de Verão a bailar-me nos olhos.
Verão! Sol e mar!
Abrando.Cheguei ao destino, ficarei por aqui.


...Apelidaram-me um dia de poeta! Não sei.
Já fiz da caneta o meu mundo, mas rasguei o meu mundo em torres de papel....

"Mar... meu mar!!
Meu azul, minha alma, meu conto de fadas!
Meu canto e encanto de um saber que eu não sei!
...Meu refúgio. Meu recanto.
Meu ídolo. Meu Santo.
Meu riso, meu pranto
que esconde em seu manto
tanta dor que chorei..."

Mar...
Sol e mar...
e um resto de Verão a bailar-me nos olhos.

A mente fervilha. O coração é Paz, gratidão.

O grito sai sem aviso:-Espera!
Estende-se a mão:-Serei mesmo poeta?

Olho o azul.
Este azul tão meu e só meu como de toda esta gente.
E depois... de repente... escuto na mente, absorta, sem fala:

"-Tu sentes, poeta, o fulgor que te embala?
A magia das cores e o encanto das marés?
Escutas no canto rolando a teu pés
esta magia da vida que tua alma regala?

Sentes, poeta, a energia que emano?
A mensagem/silêncio que te mostro e ofereço?
E mesmo quando zangado o quanto belo te pareço
ou o que desperto em ti, sem falsidade ou engano?

Sabes, poeta, das emoções que te afagam
nesta plenitude que ao olhar contagia?
Então tu, poeta, tens tal como falam
o sopro de Deus e na alma a poesia."


... ...

Olho o horizonte. Desarmada.

Talvez o seja, talvez não...
Há magia na palavras. Digam o que disserem!...

Regresso a casa. O meu mundo é de silêncios. Longe do galopar das matilhas.


Filó (2008)

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