14/07/09

Maresias... introdução


Porque escrevo?
A resposta imediata seria: -não sei!
Resposta fácil que me ilibaria de pensar, de chegar lá ao fundo, de ir mais além, de mexer e remexer onde evitamos ir... Mas eu vou. Gosto de ir. Afinal é aí que encontro as respostas. Pode até doer um pouco, mas em todas as feridas tem que haver dor antes de sarar.
Também muitas vezes dói escrever, e eu escrevo! Nem há como evitá-lo.
Porque escrevo?
O difícil não é sabê-lo, o difícil é admiti-lo perante os outros, dar a cara... aos outros... sempre os outros: eternos fantasmas rodeando a assombrando; como se não fossemos todos feitos da mesma matéria ao nascer e ao morrer. Como se não estivéssemos todos no mesmo barco!
Enfim!...

Afinal, porque escrevo?
Por tantas razões, e por nenhuma!

De muito cedo enfrentei a barreira da comunicação.
As palavras faladas não preenchiam os vazios da minha necessidade.
(E ainda hoje poucas vezes preenchem! Ou porque são raras, ou porque pouco as encontrei, ou até, porque também eu nunca aprendi como falá-las...)
Desde muito cedo recorri à palavra escrita para satisfazer a ânsia de tomar contacto com outros conhecimentos, outras ideias, outros ideais e foi assim que entrei num mundo abstracto, diferente, mágico até, onde podia viajar, experiênciar e aprender sem sair do lugar e, sobretudo, sem me expor. Isso sim era-me permitido, e eu devorei tudo quanto me passou pela mão na altura. ... Agora não tanto!
Depois, verifiquei que podia fazer o inverso.
Podia ser eu a dar asas ás palavras que fluíam e se multiplicavam cá dentro e que não tinham como sair para o mundo exterior. O meu escape que asseguraria, de certo modo, o meu (talvez) equilíbrio durante uma grande parte da minha vida.
Ali eu era mais Eu, sem contestação!

Uma fuga ainda inconsciente no início, mas que se tornou presente pela vida fora.

Não importava que ninguém soubesse, o importante era o prazer a liberdade que isso me trazia.
As viagens ao interior de mim, as minhas constatações, a descoberta do meu Eu, as minhas raivas, as minhas revoltas, os meus pequenos/grandes segredos e, sobretudo, o aumentar da compreensão de pequenas/grandes questões com que me defrontava no dia a dia, ali, no meu pequeno mundo de palavras.
A musicalidade das sílabas entretanto encantava-me, tornaram-se um jogo fascinante, e assim nasceram os primeiros "poemas"... O casamento perfeito fundindo a emoção/palavra numa droga tomada a pequenos goles, um prazer/dor confundidos e muitas vezes amargos.

Muito mais tarde tomei a liberdade de mostrar alguns desses meus "segredos".
Chamaram-lhes sensibilidade, chamaram-me poetisa!
Se o sou, ás vezes mais valera não ser!... Mas enfim...

E assim aqui chego.
Poetisa ou não, não me interessa por demais. Nunca me interessou.
O que interessa, isso sim, é a chama que vem não sei de onde, que abarca tudo e me lança num mundo de palavras e que são, só e apenas, algo aqui dentro a querer projectar-se e expandir-se.

E é tudo talvez, ou algo mais ainda que me impulsiona a escrever!
E um dia saberei mais.


Filomena Vilhena (Filó)

Sem comentários: